Tava olhando as postagens antigas de um site relativamente engraçado (failblog) e me deparei com uma "piada" que chamou muito a minha atenção:
Não preciso dizer que achei essa figura fantástica, né?! É claro que não foi pela "piada" em si, mas pela enorme carga crítica nela contida e por, de certa forma, ilustrar parte do que escrevi num post passado (Quase tudo é temporal), no que diz respeito ao plano divino para a sua criação.
Não sou do tipo de pessoa que condena a riqueza ou o acúmulo de capital, até acredito no capitalismo como sendo um dos melhores sistemas a ser implantado (claro que depois da Anarquia, não a idiota associada a desordem e caos, justamente o contrário, acredito naquela em que o poder seja verdadeiramente compartilhado e que cada membro deste determinado grupo saiba o seu papel, não por uma imposição mas por consciência própria), não acho que pessoas de muitas posses devam se privar de algo pelo fato de outras não terem as mesmas possibilidades, mas definitivamente condeno a avareza, mesquinharia e a noção de que alguém é especial por ter e não por ser.
Daí surge em mim diversos questionamentos acerca do que é ser ou o que significa este processo de "vir a ser" ao qual simplesmente chamamos de viver.
Observando a construção do indivíduo unicamente pelo lado sócio-científico, não tenho muitas dúvidas sobre os porquês de nossa sociedade ser o que é, o problema está justamente ao tentar unificar estes conhecimentos com a visão religiosa, em especial a cristã.
Basicamente encontramos um grupo que assume como verdade primordial a soberania de um deus totalmente amoroso, misericordioso e criador de todas as coisas. Não somente criador de todas as coisas como também o regulador e mantenedor desta ordem. Os nossos próprios sentimentos, habilidades e capacidades, até mesmo a fé n'Ele seria um dom dado e por ele administrado.
Aí começam os problemas, se o amor, assim como a própria fé em Deus dentre outras coisas, seriam dons dados exclusivamente por Deus a cada indivíduo, ao mesmo tempo em que tais dons são présupostos para a sua salvação, como seria possível entender esse plano divino não sendo através da teoria da predestinação, ou da escolha prévia de Deus por aqueles que serão salvos e os que não serão?!
Considero interessante a utilização o "livre arbítrio" para justificar tais questões, no sentido de eximir Deus da culpa pela danação do homem, responsabilizando-o pela sua própria ruína só que, infelizmente, o livre arbítrio não dá conta de resolver toda a questão.
Se consideramos o homem como possuidor de um livre arbítrio autêntico e, portanto, responsável pelos seus atos e escolhas, também relativizamos a soberania divina o que contraria a sua palavra, e se afirmamos que o livre arbítrio é condicionado por possibilidades já determinadas por Deus não o eximimos de sua culpa e continuamos a pregar a predestinação só que de maneira mais amena.
Podemos utilizar também a figura do diabo e de seus demônios que se apresentam, sob a visão de alguns pregadores, como a antítese de Deus e seus anjos, os causadores de todos os males. Essa figura também não resolve o problema, pois como ente criado por Deus e sob sua autoridade, seria plano divino a sua existência e sua atuação como opositor e como ladrão de almas, sendo suas as vontades de Deus.
Justifica-se também, as atrocidades da existência humana, pelo fato do homem ter querido ser como Deus e por isto ele estaria num estado de afastamento da verdade divina, só que esse sentimento, a cobiça de ser igual a Deus ou a própria curiosidade de saber qual o gosto da tal fruta proibida, também foi dado por Deus e antes mesmo do tal pecado original, em outra palavras isso não faz sentido algum. Como culpar uma pessoa pela sua "curiosidade" (ou cobiça) sendo que esta curiosidade não foi algo que ele escolheu ou inventou pra si e sim um dom dado pelo seu condenador que te ama?!
E neste ponto posso relacionar com a imagem do início: Como um Deus tão amoroso e compasivo poderia criar seres destinados a sofrer tanto em vida como na morte e para piorar a sua miséria colocou outros demais em situação de extremo conforto para aumentar ainda mais a miséria dos que sofrem? Por que este mesmo Deus ouve somente as orações de algumas pessoas? Por que mesmo podendo criar algo realmente perfeito, onde não haveria "choro ou ranger de dentes", ele prefere criar um lugar de sofrimento e dor pelo qual todos têm que passar, para que alguns escolhidos possam desfrutar da tal felicidade no pós vida? Não faz sentido algum acreditar que esse Deus que tendo todo o poder para fazer o certo e não possuindo a vontade para tal, possa realmente ser um deus de amor e compaixão, que ama a sua criatura. Aliás isso tudo me parece de um sadismo extremo e em nada amoroso.
É claro que a figura diz muito mais do que o que eu já falei aqui, mas quis me ater ao que entendo como ser o estopim das demais questões, a tal vontade e poder soberano de Deus e a fé no amor deste deus para sua criação. E evidentemente não estou me aprofundando nos questionamentos, afinal, isto é um blog e não uma tese de pós-doutorado sobre a téodiceia cristã, que aliás já foi tratada por Leibniz (e por muitos outros, cristãos ou não) e posso dizer que, mesmo não lendo tudo o que ele escreveu, acabo por não concordar que isto que nós vivemos seja o melhor mundo possível, para um Deus que pode todas as coisas.
Acredito em muitas coisas, utópicas ou não, mas ainda não consigo acreditar em coisas sem sentido... talvez eu não seja um escolhido e por isso não tenha recebido tal dom!
"No matter what happens, always be thankful"
I Was looking to an old post of a Brazilian relatively funny site (failblog) and I came across a "joke" that really caught my attention: "Thanks Jesus for..."
Needless to say that I found it fantastic, huh? Of course it wasn't because of the "joke" itself, but by the enormous critical load contained therein and, to some extent, illustrate a bit of what I wrote in a previous post (Almost everything is temporary), what it concerns to the divine plan for His creation.
I'm not the type of person who condemns wealth or capital accumulation, I even believe in capitalism as one of the best systems to be deployed (of course after the Anarchy, not the idiot associated with disorder and chaos, just the opposite, I believe in truly shared power and each member of this particular group knowing its role, not by imposition but by self-consciousness), I don't think that people of many possessions should be deprived of something because others don't have the same possibilities, but I definitely condemn greed, pettiness and the notion that someone is special just for having goods and not really being something.
From there arises in me several questions about what is or what it means to be in this process of "becoming" which we simply call living.
Observing the construction of the individual only by the sociology-scientific side, I don't have many doubts about the whys of our society being what it is, the problem is precisely in trying to unify this knowledge with the religious view, especially the Christian one.
Basically we found a group that assumes as the primordial truth the sovereign of a loving and fully merciful God creator of all things. Not only creator of all things as well as the regulator and maintainer of this order. Our own feelings, skills and abilities, even faith in Him would be a gift given and administered by himself.
Then the problems begin, if love as well as the faith in God, among other things, would be gifts exclusively given by God himself to each individual at the same time that such gifts are presuppositions for their salvation, how could someone understand this divine plan as not through the theory of predestination, or God's prior choice for those who will be saved and those who will not?!
It's interesting the usage of the "free will" to justify such questions in order to spare God for the guilty of mans damnation, blaming the man himself for his own ruin but unfortunately "free will" is not good enough to solve the whole problem.
If we consider the man as possessing a genuine free will and therefore responsible for their actions and choices we also relativise divine sovereignty, which contradicts Gods word, and if we say that free will is conditioned by possibilities already determined by God we do not to disclaim his guilt and continue to preach predestination, only in a more mild way.
We may also use the figure of the devil and his demons that appear, in the view of some preachers, as the antithesis of God and his angels, the cause of all evils. This figure also does not solve the problem, because as a being created by God and under his authority, would be the divine plan its existence and its role as an opponent and as a thief of souls, and his will would belong to God.
Some may justifies the atrocities of human existence, by the fact that the man had wanted to be like God and because of that he would be in a state of remoteness from the divine truth, but that feeling, greed to be equal with God or just a curiosity in knowing the taste of the forbidden fruit, was also given by God even before the original sin was committed, in other words it makes no sense. Like blaming a person for his "curiosity" (or greed) and this curiosity was not something he chose or invented for himself, but a gift given by his damning who loves him?!
And at this point I can relate to the image of the beginning: How a loving and merciful God could create beings destined to suffer both in life and in death, and to worsen their misery put others in situation of extreme comfort? Why this very God only hears the prayers of some people? Why with the power to create something really good, where there wouldn't be "weeping and gnashing of teeth", he prefers to create a place of suffering and pain for which all shall pass, so some chosen people can enjoy happiness in the afterlife? It makes no sense to believe that God having all the power needed to do the right thing, but not the will, may actually be a god of love and compassion, who loves his creature. In fact it all seems as of an extreme sadism and not kind at all.
Of course the picture says much more than what I said here, but I wanted to stick to what I understand to be the trigger of many other questions: the will and sovereign power of God and the faith in his love for his creation. And of course I'm not delving into the questions, after all, this is a blog and not a post-doctoral thesis on Christian theodicy, which has already been treated by Leibniz (and many other writers, Christians or not) and I can say that, not even reading everything he wrote, I just did not agree that this world that we live in is the best possible world to be created for a God that can do whatever he wants.
I believe in many things, utopian or not, but I still can not believe in nonsense ... I may not be the chosen one and I didn't receive such gift!